domingo, 28 de junho de 2009

Uma reparação sem precedentes



A demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, constitui um evento de grande importância histórica no Brasil. Quando os portugueses chegaram ao país, em 1500, estima-se que havia um número entre um e cinco milhões de índios vivendo em terras brasileiras. Com o passar dos séculos, o índio foi submetido a expropriações de território, massacres, escravidão e aculturação forçada.
Agora, com a população indígena retomando o seu crescimento, existem aproximadamente 700 000 indígenas no país. Com a reserva criada em Roraima, os índios serão donos de aproximadamente 15% do território nacional. É mais do que justo. Mesmo que à primeira vista o território pareça vasto demais para tal número de pessoas, é preciso se pensar que os índios não seguem o modo de vida ocidental, e precisam de grandes territórios em estado natural para exercer suas atividades de coleta, caça e pesca.
Além do mais, a população indígena tem crescido rapidamente. Enquanto a população do Brasil cresce em uma média de 1,3% ao ano, o número de índios tem aumentado em média 3,5% no mesmo período. Deste modo, a Raposa Serra do Sol, assim como as outras reservas, garantirão que as populações indígenas do Brasil possam adotar seu modo de vida e possuir um território próprio por séculos.
Além de ser importante para que a população original do Brasil possa continuar existindo, a Reserva Raposa Serra do Sol ajudará o país a preservar a Floresta Amazônica. Saem do território os mineiros e agricultores, que têm devastado o meio ambiente, e retornam os indígenas, que têm uma relação mais integrada com a terra.
Alguns militares têm argumentado que a reserva enfraqueceria as defesas do país, por deixar nas mãos dos índios vasto território fronteiriço. No entanto, é possível estabelecer bases fora das fronteiras da Raposa Serra do Sol, assim como utilizar-se de recursos como aviões e satélites, que não invadiriam a reserva, para realizar a vigilância do território.
A criação da Reserva Raposa Serra do Solo foi uma medida de impacto, mas que era necessária há muitos anos. Com ela, o Brasil torna-se o país de vanguarda nas reparações históricas aos povos indígenas, superando até mesmo os Estados Unidos, cujas reservas não chegam a 2,5% do território nacional.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O verde é a cor da moda



No mundo de hoje o consumo é cada vez mais frenético, gerando lixo que se amontoa em aterros e em outros lugares. A produção industrial cresce massivamente, exaurindo minérios e outros recursos naturais. Gases são despejados despudoradamente na atmosfera, que se aquece a cada ano. A água é poluída e desperdiçada, tornando-se gradativamente um bem raro.
Disso, todo mundo já sabe. Se não sabe, seja bem-vindo ao planeta Terra. Acontece que o cinza do concreto e o negro da fumaça vêm sendo as cores da moda neste planeta há pelo menos 200 anos, quando da ocorrência da Revolução Industrial. Agora, está na hora de mudar de estação.
De certa forma, isto está ocorrendo. Os invernos viram outonos, os outonos viram primaveras, as primaveras verões e estes, infernos inimagináveis. O que vestir na estação? Talvez uma roupa de astronauta, em algumas décadas.
No entanto, é possível também mudar de maneira positiva. Saem o cinza e o negro, entra o verde como cor da estação. Reciclagem, transporte coletivo, agricultura, urbanismo, todas as áreas discutem o meio ambiente. Mas e a moda?
A visão desta como epítome do luxo e do consumismo ostensivos, do gastar insaciável das socialites em centenas de sapatos e vestidos caros, das toneladas de produtos feitos de plástico e borracha, dos milhões de indústrias a sintetizar tecidos os mais inorgânicos, está ficando fora de moda.
No entanto, surgem alternativas que podem remodelar a moda, colocando-a de volta em sintonia com o mundo. Na Amazônia, estuda-se um novo tipo de material, a fibra de coco impregnada com látex natural. Bolsas, poltronas, tapetes, vasos e até chinelos podem ser produzidos com este material, que por ser biodegradável é menos agressivo à natureza do que muitas substâncias utilizadas na confecção daqueles produtos. No Paraná, recente desfile apresentou roupas cujas tinturas provinham de materiais como pó de café, água de feijão e barro. Mais uma vez, tem-se o exemplo de alternativas para evitar tintas químicas, que são impregnadas de chumbo e outros materiais pesados.
Vivendo no Brasil, terra de imensa extensão territorial e biodiversidade, há uma miríade de recursos naturais que podem ser utilizados no intuito de tornar a moda menos agressiva ao meio ambiente.
Além disto, ao utilizarmo-nos de recursos oriundos da natureza, passaremos a conhecê-la melhor e a perceber também a importância de se preservar as florestas, por exemplo.
O verde é barato, bonito, e é a cor da moda. Cumpre adotá-lo e vesti-lo o mais rápido possível, e da maneira mais racional disponível. Do contrário, poderá chegar o momento no qual a Terra poderá nos mandar a conta de nosso consumismo ambiental desvairado. E os juros não poderão ser pagos com cartão de crédito.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Carta a Gilmar Mendes e seus amigos




Gostaria de parabenizar o Excelentíssimo e sábio Ministro do Supremo Gilmar Mendes, assim como os gloriosos empresários de Comunicação do Brasil, por terem finalmente conseguido derrubar a obrigatoriedade do Diploma de Jornalismo.
No entanto, gostaria também de sugerir algumas mudanças a mais aos meus colegas empresários. Em primeiro lugar, tratem de abaixar esse piso salarial do Jornalismo. A profissão não é mais considerada de nível superior, então por que gastar dinheiro à toa pagando mais do que o jornalista vale?
Em segundo lugar, tratem de contratar funcionários inexperientes, de preferência semi-analfabetos, que não tenham noções de Filosofia e nem de Ética, aquelas coisas inúteis ensinadas nas faculdades. Deste modo, a política editorial da empresa não poderá ser contestada, e isto tornará o trabalho de manipulação do leitor bem mais fácil.
Ao ministro Gilmar, gostaria de desejar que continue com o excelente trabalho, e que derrube muitos outros diplomas por aí. Só não se esqueça de manter o do Direito, pois de outra forma poderá ser substituído por alguém que não é diplomado, e assim perderemos muito do seu desempenho sério e honesto.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma decisão questionável



Hoje a mídia divulgou, após ter se calado sobre este assunto durante todo o processo do julgamento, o resultado do recurso apresentado ao Supremo Tribunal Federal que questionava a obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão de jornalista.
Assim, a sociedade brasileira, que foi privada do debate sobre a questão, só ficou sabendo do seu resultado.

Como era de se esperar, seguindo os interesses dos grandes empresários da mídia, os juízes derrubaram a obrigatoriedade do diploma.

Alguns dos argumentos apresentados pelos juízes do Supremo foram:

* ''A obrigatoriedade do diploma fere a liberdade de expressão. Sem a obrigatoriedade, todos podem ser jornalistas, e assim a liberdade de expressão está garantida''.

* ''O jornalismo não exige uma formação técnica. É como a arte, como a literatura''.

* ''O jornalismo não pode ser comparado a outras áreas como o Direito e a Medicina. Estas áreas necessitam de formação, pois um erro causado por um profissional destas pode resultar em conseqüências graves, ao contrário de um erro na imprensa''.

Estes fracos argumentos foram algumas das razões apresentadas pelos juízes como pretexto para derrubar a obrigatoriedade do diploma.

Em primeiro lugar, a liberdade de expressão já está assegurada fora do Jornalismo. Com o advento da Internet, é possível escrever textos, produzir vídeos, materiais sonoros, fotografias e publicar uma míriade de outras coisas na rede. Ademais, ''liberdade de expressão'' é uma palavra perigosa para caracterizar a imprensa. Os jornais seguem linhas editoriais definidas por seus donos. Omitem notícias (como no próprio caso deste recurso), manipulam a informação, defendem interesses de segmentos da população.

Em segundo lugar, o Jornalismo não pode ser enquadrado na mesma categoria da arte. Claro, que, em uma matéria de televisão, de rádio, ou mesmo de impresso, há espaço para o estilo, para o gosto pessoal, para até mesmo alguma pequena inserção artística, mas esta é a parte menor. Quanto à técnica,a parte maior, ela realmente não precisa ser absorvida na faculdade. Uma pessoa pode aprender a filmar, fotografar, ou mesmo escrever na redação. No entanto, a faculdade de Jornalismo tem várias matérias teóricas, que explicam conceitos como manipulação da imagem, as várias significações que um texto pode ter e até mesmo ética. Dificilmente um chefe de redação tomará tempo para explicar a um repórter a intencionalidade da fotografia, como retratada por Roland Barthes, ou outros inúmeros conceitos apreendidos na faculdade. Formar-se-á profissionais com o domínio da técnica, mas sem pensamento crítico.

A última afirmação é a mais aberrante de todas. Obviamente que o Jornalismo não pode matar uma pessoa, pelo menos diretamente, como no caso da Medicina. No entanto, com jornalistas mais manipuláveis e possivelmente menos éticos, a maneira como a sociedade recebe as informações será brutalmente alterada. Grandes grupos poderão impor suas opiniões, por meio de jornalistas-robôs, que terão menos filtros éticos do que alguém formado em uma universidade. Ademais, em casos mais diretos, pessoas poderão ser prejudicadas por uma imprensa de menor qualidade, como no caso da Escola Base, que, por sinal, é estudado nas faculdades de Jornalismo.

Chegamos ao ponto que os grandes empresários desejavam. Agora, podem formar ''profissionais'' da maneira que bem entenderem. Seu argumento falho é de que estão contribuindo para ''melhorar'' a imprensa brasileira. Se realmente desejam melhorar, porque não exigir mudanças nas faculdades, ao invés de acabar com o diploma? Será que as faculdades deixam os estudantes menos preparados para ser jornalistas do que um amador, para que as empresas passem a preferi-los? Obviamente que não. Amadores têm menos filtros, têm a cabeça mais moldável aos interesses editoriais.

Paralelamente, com o inchaço no mercado de jornalismo, e o fim da obrigatoriedade do diploma, logo pode haver um julgamento para diminuir o piso salarial dos jornalistas. Lei da Oferta e da Procura. Quando há oferta demais, a procura cai. Além disto, sem a exigência do diploma pressupõe-se que a profissão não tenha mais tanta importância quanto antes. Por que não derrubar o salário?

Com um panorama tão ruim, é preciso conscientizar a sociedade brasileira, alertá-la para prestar ainda mais atenção naquilo que sai na mídia. Pois agora, os realizadores da manipulação apertaram mais ainda o cabresto.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A Obsolescência Final




''Ela funciona como nova. Já não se fazem mais geladeiras assim'', observa Walt Kowalski, personagem de Clint Eastwood no filme Gran Torino, após retirar com dificuldade um antigo freezer Westinghouse de seu porão.

A princípio, esta fala do idoso personagem poderia soar apenas como conversa típica de velho. E é, mas o conteúdo da frase não deixa de ser verdadeiro. Nos dias de hoje, vários produtos supostamente duráveis se estragam muito mais rápido do que seus similares de antigamente.

Na maioria dos casos, os objetos materiais são feitos com uma espécie de prazo de validade pelas indústrias que os produzem. Isto caracteriza o conceito de obsolescência programada: as empresas fabricam coisas que se quebrarão, ou se tornarão obsoletas, em um prazo determinado por elas. Prazo este vantajoso para a indústria, que poderá vender mais produtos para repor os antigos, e assim continuar com o sistema de obsolescência, num ciclo imaginado para não ter fim.

Esta obsolescência programada é muito fácil de se perceber na indústria de eletrônicos. Se compramos um computador de última geração nos dias de hoje, em seis meses já haverá outro modelo melhor. Logo, as empresas de software começarão a lançar programas que não rodam no primeiro computador citado, e será preciso trocar o computador, que terá então se tornado obsoleto, caso o consumidor deseje se utilizar das tecnologias de ponta.

No entanto, como bem notado por Walt no filme, não é só nos eletrônicos que esse fenômeno é perceptível. As geladeiras estão bem mais frágeis. É interessante ver que enquanto existem pessoas que vivem em paz com suas geladeiras dos anos 50, outras têm tumultuosas relações com seus modelos anos 2000, cujas portas caem ou fusíveis queimam ao menor espirro.

Carros, relógios, fogões, sapatos, televisores... Nada escapa à regra.

Porém, apesar de o conceito de obsolescência programada ter sido uma coisa criada inicialmente para bens materiais, parece que ele acabou adentrando outras áreas.

Vivemos em uma sociedade de culto ao descartável e momentâneo. Bandas de rock surgem,com toda a mídia proclamando serem os maiores músicos de todos os tempos, e poucos meses depois ninguém sabe do paradeiro de seus integrantes; notícias são colocadas a todo minuto na Internet, para serem consideradas desatualizadas poucos dias ou até mesmo horas depois; filmes são lançados às toneladas, para serem transformados em DVD semanas após a exibição nos cinemas.

A obsolescência programada trouxe consequências não-programadas. O capitalismo, apesar de seu imenso poder de adaptação, sofre nas bases por causa de uma crise econômica gerada justamente por este conceito. A bolha da Internet, que era o meio que mais atraía investidores no final dos anos 90, estourou em 2001. Ou seja, investir na Internet tornou-se obsoleto.

Assim, os investidores dirigiram-se para o mercado imobiliário em massa. E o que aconteceu? O mercado de imóveis também entrou em crise. É a obsolescência não-programada (ou seria programada por homens de terno em Wall Street?) dos grandes booms econômicos.

Tudo isso se torna fichinha ao repararmos que o próprio planeta Terra está entrando na dança louca da obsolescência do modo de produção capitalista. O consumo é cada vez mais frenético, gerando lixo que se amontoa em aterros e em outros lugares; A produção industrial cresce massivamente, exaurindo minérios e outros recursos naturais; Gases são despejados despudoradamente na atmosfera, que se aquece a cada ano; A água é poluída e desperdiçada, tornando-se gradativamente um bem raro.

O único problema é que este produto chamado Terra, para falar a linguagem dominante, não é algo o qual possamos trocar por um novo, ou comprar outro. Assim, é preciso repensar nossas atitudes, tanto no conceito da obsolescência quanto em outros aspectos da vida cotidiana, ou a humanidade sofrerá a obsolescência final.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O diário de um cucaracha


Cucaracha, em espanhol, significa barata. Nos Estados Unidos, cucaracha é a carinhosa gíria utilizada pelos nativos para se referir a imigrantes latino-americanos.

Acabei de terminar de ler ''O diário de um cucaracha'', livro engraçadíssimo escrito pelo cartunista Henfil, que foi tentar a sorte na América do Norte nos anos 70.
O ''diário'' é na verdade uma coletânea das cartas enviadas pelo artista a seus amigos e familiares, durante os quase dois anos em que residiu em Nova York (de 1973 a 1975).

Henfil era uma pessoa extremamente sincera e aberta, e isto transparece na obra. Em suas cartas, ele contava sem pudor tudo o que estava sentindo e relatava vários eventos que tiveram significância em sua estada, muitos deles até constrangedores.

Apesar de ser um quadrinista e não um escritor, o texto do autor é extremamente fluido e divertido. É impressionante o capricho que ele colocava nas cartas que escrevia aos amigos, mesmo estando atolado de trabalho. Além disto, Henfil tinha uma linguagem muito rica e engraçada, e não media o uso de palavrões e expressões fortes, assim como de recursos de estilística até bem sofisticados, para retratar o que estava sentindo.

O livro mostra o desgosto com o qual Henfil estava convivendo no Brasil da ditadura militar, estando submetido à censura. O cartunista fazia vários desenhos por dia, às vezes mais de dez, para que apenas dois ou três fossem aprovados para serem publicados em jornais.

Assim, o artista resolveu tentar a sorte nos Estados Unidos. Chegou lá sem saber falar inglês e classificado como ''correspondente''. Apesar de estar morando em Nova York, produzia cartuns e charges sobre o Brasil e mandava-os pelo correio para os jornais do país para os quais ainda trabalhava. Não obstante, Henfil tinha pretensões grandes: Queria produzir em inglês e vender para a imprensa americana e, depois de consolidado, ingressar no mundo do desenho animado.

Com o tempo, o artista foi aprendendo inglês gradativamente e ''traduziu'' alguns de seus personagens para o contexto americano. Como era talentoso, conseguiu filiar-se a um grande sindicato distribuidor de quadrinhos que venderia suas tirinhas (sim, ele foi obrigado a transformar seus cartuns e charges em tirinhas) e passou a ser publicado em jornais americanos.

A experiência não deu muito certo. Os americanos, acostumados a quadrinhos sobre ''bichinhos engraçadinhos'' e ''brigas de casais engraçadinhos'', nas palavras do próprio Henfil, não foram capazes de compreender seu humor anárquico, politizado, sarcástico e pesado.

Assim, Henfil chegou a um ponto em que ou se amenizaria tornando-se pasteurizado para vender aos americanos, ou teria que revolucionar os quadrinhos daquele país lutando sozinho contra a alienação dos leitores americanos. Cansado, preferiu voltar para o Brasil da ditadura.

Outros pontos que influenciaram na decisão da volta foram os terríveis hospitais públicos americanos, para os quais o artista tinha que ir constantemente para tratar sua hemofilia, e a falta de empatia com o povo norte-americano, o qual Henfil classificava como robotizado, frio e intolerante.

O livro é um rico relato dos Estados Unidos daquela época tumultuada, mencionando eventos como o escândalo de Watergate e a Guerra do Vietnã; Um retrato auto-biográfico bastante interessante do próprio Henfil, falando sobre o homem e o artista; E também uma coleção de crônicas deliciosas, muitas delas escrachadas, mostrando como era a vida na nação ''mãe, pai e tia'' do capitalismo.

Mesmo para quem não curte quadrinhos (e que é ruim da cabeça ou doente do pé), ''O diário de um cucaracha'' é um livro que poderá trazer muita diversão e conhecimento sobre a vida de um dos maiores humoristas que o país já teve.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu ainda acredito em Scorsese


Martin Scorsese foi um dos diretores que participaram da revolução que houve em Hollywood nos anos 70. Junto com Francis Ford Coppola, Roman Polanski, Milos Forman, Stanley Kubrick, Woody Allen, Ridley Scott e outros diretores, Scorsese deu um bico na mediocridade que imperava no cinema americano de sua fundação até os anos 60, e que infelizmente retornaria no início dos anos 80.

Durante aqueles breves anos, Hollywood deixaria de lado a torrente de musicais alienados dos anos 50, os novelões estilo ''...E o Vento Levou'' e as comédias dos Três Patetas para investir em filmes viscerais, muitas vezes críticos ácidos do american way of life. Scorsese contribuiu principalmente com suas duas obras-primas ''Taxi Driver'' (1976) e ''Touro Indomável'' (1980).

Nos dois filmes, Robert de Niro fez atuações magníficas, representando personagens decadentes e desajustados. Obviamente, nenhum dos filmes foi reconhecido pelo Oscar, por conter grande quantidade de linguajar considerado ''inapropriado'' e retratar lados também não muito belos da sociedade norte-americana.

Nos anos seguintes, Scorsese faria um filme interessante (''A Última Tentação de Cristo'', em 1986) e voltaria a brilhar com ''Os Bons Companheiros'' (1990), um dos mais importantes filmes de máfia, que retratou os gângsteres italianos sob um ponto de vista muito menos glamouroso do que ''O Poderoso Chefão''.

Depois de ''Os Bons Companheiros'', Scorsese fez uma série de filmes inexpressivos como o fraco ''Cabo do Medo'' (1991), filme banal de psicopata-americano-que-persegue-família e ''Vivendo no Limite'' (1999), película em que Nicolas Cage trabalha como motorista noturno de ambulância, em uma tentativa falha de repetir o êxito de ''Taxi Driver''.

Em 2002, o diretor realizou ''Gangues de Nova York''. Filme despretensioso, esta obra é mais um exercício estético de cinema do que uma tentativa de se realizar algo catártico. E funciona. A ''arte pela arte'' de Scorsese rende momentos interessantes, como as cenas em que as gangues do século XIX lutam em meio aos pátios nevados de Nova York, e a hostilidade aberta aos imigrantes irlandeses.

''Gangues de Nova York'' é um filme que deve ser visto como um teatro visual. Mesmo assim, para quem esperava um dos velhos e bons acertos do diretor, ainda faltou um pouquinho.

Scorsese atacaria de novo com ''O Aviador'' (2004), um filme água-com-açúcar sobre a vida do milionário Howard Hughes, e ''Os Infiltrados'' (2006), refilmagem de um filme policial de Hong Kong.

Este último foi muito incensado pelo público e pela crítica, mas não tem nada de verdadeiramente especial. O roteiro é simples, a trilha sonora é rock banal, as cenas de ação são explosivas e vazias. Scorsese fez um filme pasteurizado para as massas de hoje em dia. E funcionou.

Depois de tanto tempo sem realizar um filme marcante (o último foi ''Os Bons Companheiros'', há quase 20 anos) há aqueles que digam que o diretor perdeu a mão definitivamente.

Porém, estou com uma sensação positiva muito forte sobre um filme que será dirigido por Scorsese e que sairá nos cinemas em 2010. O título em inglês é ''Silence''. A obra é baseada no livro homônimo do consagrado escritor japonês Shusaku Endo.

O livro de Endo se passa no Japão feudal, em meados do século XVII, e conta a história de dois missionários portugueses que viajam ao país para investigar massacres de cristãos nipônicos e também localizar seu desaparecido mentor.

A trama por si só, com sua oposição entre Oriente e Ocidente, em um momento histórico obscuro, é interessantíssima. Outros pontos que podem contar a favor de Scorsese são o seu background italiano-católico, que já lhe ajudou a caprichar em ''A Última Tentação de Cristo''; o fortíssimo elenco escalado: Benício Del Toro, Daniel Day-Lewis e Gael Garcia Bernal representarão os missionários lusitanos, dando-nos um merecido descanso de Leonardo di Caprio, e também a violência da trama, elemento do qual Scorsese gosta e sabe trabalhar bem.

Veremos o que acontece. Mas estou esperançoso e aguardo ansioso por esta obra.

sábado, 11 de abril de 2009

The Key to Reserva


O curta-metragem ''The Key to Reserva'' é um filmezinho bastante interessante. No começo, aparecem imagens do renomado diretor Martin Scorsese, sendo entrevistado e anunciando que está em possessão de algumas páginas originais de um roteiro. Ele afirma que aquelas páginas foram escritas por ninguém menos do que Alfred Hitchcock.

Scorsese comunica que irá filmar as páginas do roteiro, que estava incompleto e jamais havia sido filmado, exatamente como o grande mestre do suspense o teria feito.

Depois dessa introdução em tom de documentário, passamos ao ''The Key to Reserva'' em si, que é o nome do filme cujo script incompleto havia sido escrito por Alfred Hitchcock.

''The Key to Reserva'' tem poucos minutos mas é muito bem-feito, lembrando várias obras clássicas do grande diretor inglês. A câmera percorre o cenário em ângulos criativos; A trilha sonora lembra Bernard Herrmann; O ator usa terno e penteado de estilo antiquado. Essas e outras inúmeras referências (inspiradas em cenas de filmes de Hitchcock) estão presentes, mas se for comentar todas acabarei estragando o prazer de ver o vídeo.

Para quem quiser ver, deixo o link de ''The Key to Reserva''. E preparem-se, pois o final tem uma surpresa completamente inesperada, seguindo o estilo do mestre inglês.

http://www.scorsesefilmfreixenet.com/video_eng.htm

terça-feira, 7 de abril de 2009

Benefício para quem?


Na última quarta-feira, sugestivamente dia primeiro de abril, o Supremo Tribunal Federal adiou o julgamento de um recurso polêmico. Se aprovado, tal recurso extinguirá a obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão de jornalista.

Aparentemente, o adiamento desta decisão foi causado pelos protestos realizados por jornalistas, estudantes da área, professores e membros da sociedade civil.

Não é a primeira vez que a questão da exigência do diploma de jornalismo entra em pauta no Brasil. A questão é complexa, e divide opiniões dentro da sociedade.

Há aqueles que afirmam que esta graduação não é necessária, uma vez que os jornais poderiam contratar funcionários menos qualificados e simplesmente treiná-los para a profissão.

Todavia, pode-se derrubar este argumento simplesmente com a constatação óbvia de que um funcionário sem o diploma pode até obter conhecimento da práxis jornalística, mas dificilmente terá acesso a um estudo de qualidade de matérias como Semiótica, Teoria da Comunicação, Ética, Filosofia e inúmeras outras disciplinas importantes no campo da Comunicação.

No entanto, esta abordagem do problema não deve ser o ponto central da discussão. A questão vai mais além, quando devemos nos perguntar: Que benefício esta medida trará para a sociedade brasileira?

O Recurso Extraordinário RE 511961 foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal por um grupo de influentes empresários da comunicação.

Se houvesse um grande déficit de jornalistas no Brasil, o que não ocorre, pois o mercado atualmente encontra-se saturado, seria justificável que se discutisse a necessidade da extinção da obrigatoriedade do diploma com o intuito de se formar mais profissionais.

No entanto, uma vez que há jornalistas sobrando no mercado, e que já existe um processo de ''seleção natural'' na atividade jornalística, onde está o benefício da extinção desta obrigatoriedade?

O benefício, se tal recurso for aprovado, será inteiramente deste grupo de empresários donos de meios de comunicação.

Além de poder diminuir drasticamente o salário dos futuros ''jornalistas'', tais empresários também terão maior liberdade para manipular estes profissionais, que na maioria dos casos não possuirão um entendimento profundo das questões jornalísticas.

Resta esperar que a sociedade brasileira, que lutou durante 20 anos de ditadura para receber informação de qualidade, reflita e opine sobre esta questão.

sábado, 4 de abril de 2009

Da pedra ao andróide




Desde seus primórdios, o ser humano sempre buscou criar representações do mundo em que vivia, tanto por meio da arte quanto pela ciência.

No início, o homem reproduzia artisticamente o ambiente em que estava inserido por meio de pinturas rupestres e de esculturas relativamente simples (como por exemplo a Vênus de Willendorff, na ilustração acima, que data de entre aproximadamente 24 000 A.C. e 22 000 A.C).

Destas manifestações iniciais, a arte evoluiu drasticamente, como atestam as impressionantes esculturas gregas produzidas na Antiguidade Clássica.




Mas foi durante o período conhecido como Renascimento, já no século XV,em que ocorreu uma grande descoberta da humanidade, a ''invenção'' da perspectiva. Os quadros passaram a ter um ponto de fuga, uma linha do horizonte, assim como ocorre na vida real.



Após o Renascimento, a próxima grande mudança nas artes viria com a invenção da fotografia, já no século XIX. Com este recurso, o homem chegou a uma analogia da realidade dotada de um grau de semelhança inimaginável até então. Para muitas pessoas (talvez a maioria), a fotografia passa uma impressão de analogia perfeita.



Após a fotografia, a sociedade mergulhou no mundo dos computadores, do tridimensional, do digital e da robótica. Desta última, mestiça perfeita da arte e da ciência, surgiu um novo conceito: ao invés de reproduzir pessoas ou animais, irá recriá-los de maneira sintética.

A robótica junta o visual, o tátil e o sonoro, para formar representações cada vez mais impressionantes da realidade. Porém, ao mesmo tempo em que estes progressos são maravilhosos, possuem também um certo lado assustador.

Vejam e tirem suas próprias conclusões:

domingo, 29 de março de 2009

Um artista das resenhas


Recentemente descobri uma coisa que me surpreendeu. Descobri que mesmo com seu caráter analítico, jornalístico e opinativo, resenhas também podem ser uma forma de arte.

No caso, o fator responsável por esta descoberta foi o trabalho de Roger Ebert, crítico de cinema norte-americano que escreve para o jornal Chicago Sun-Times. Para quem não o conhece, caso que se aplicava a mim mesmo há pouco tempo, farei uma breve retrospectiva de sua trajetória profissional.

Ebert nasceu em 1942 em Urbana, Illinois. Desde adolescente apreciava ficção científica e tinha interesses em jornalismo, envolvendo-se na produção de fanzines durante o colegial. Após concluir o Ensino Médio, entrou na Universidade de Illinois onde fez um curso introdutório de jornalismo e posteriormente graduou-se em Língua Inglesa na Universidade de Cape Town, na África do Sul.

Em 1967, Ebert começou a escrever para o Chicago Sun-Times, inicialmente como repórter de feature, passando posteriormente a trabalhar como resenhista.

Em 1975, junto com o também crítico de cinema Gene Siskel, Ebert passou a apresentar o programa televisivo semanal ''Sneak Previews'', no qual comentava os filmes em cartaz no cinema. O ''Sneak Previews'' mudou seu nome para ''At the Movies'' em 1982 e posteriormente tornou-se ''Siskel and Ebert at the Movies''.

Siskel morreu de câncer em 1999. Ebert prosseguiu com seu trabalho na televisão e no Chicago Sun-Times por mais alguns anos. Em uma triste coincidência, foi acometido por câncer, e perdeu a fala no tratamento. Assim, deixou de trabalhar na televisão, mas ainda hoje escreve para o Sun-Times.

Durante estes 42 anos de carreira, Roger Ebert tornou-se um dos críticos de cinema mais conhecidos e importantes dos Estados Unidos. Não é para menos, pois o resenhista é totalmente sui generis no terreno da crítica.

Ebert é um profissional sem preconceitos. Resenha desde filmes trash como ''As Branquelas'' até obras-primas como ''O Sétimo Selo''. E não se deixa guiar pela opinião geral da crítica e do público, sendo sempre fiel à sua própria impressão.

Uma característica interessante de seu trabalho é que ele procura resenhar os filmes de acordo com a proposta deles. Se a obra resenhada é um filme pipoca, produzido apenas para divertir, então Ebert analisará se o filme é divertido ou não. Por outro lado, se o filme tem a pretensão de ser uma obra inteligente, que faz o espectador refletir, então ele discorrerá sobre como a película conseguiu isto ou não.

As resenhas de Roger Ebert são extremamente gostosas de se ler.Além de divertidas, são muito bem-escritas e inteligentes, tanto que ele ganhou até um Prêmio Pulitzer por seu trabalho, sendo o primeiro crítico de cinema a obter tal honraria, em 1975.

Os textos de Ebert, além de comentar sobre o filme, são extremamente literários. Por vezes citam poemas, ou trechos de livros, e o autor também exprime pensamentos e percepções quase filosóficos, dando um tom ensaístico às resenhas que escreve. Outro aspecto significante em seu trabalho é o bom humor de Ebert. Extremamente perceptivo e sagaz, ele comenta os erros dos filmes (e por vezes os acertos) com comentários inteligentes e irreverentes.

Apesar de sua sofisticação, quando Ebert resenha um filme que considera de qualidade inferior, como por exemplo ''Resident Evil'' ou ''Gigolô por Acidente'', ele pode utilizar-se de escatologias ou de um tom mais sarcástico para desqualificar a obra sem no entanto perder a elegância.

Aliás, muita gente, incluindo o autor deste texto, considera as resenhas nas quais Ebert fala mal de um filme muito mais divertidas do que quando ele fala bem.

Analisando-se sob um ponto de vista aberto, pode-se dizer que ler as resenhas de Roger Ebert é como ler os textos de Luís Fernando Veríssimo, caso ele escrevesse críticas de cinema. Há várias semelhanças estilísticas e temáticas nos dois autores.

Para quem estiver interessado em ler os textos de Roger Ebert, há coletâneas de seus trabalhos, inclusive publicadas em português. ''Grandes Filmes'' e ''A magia do cinema'' são dois livros do autor que foram lançados pela Ediouro.

O site do autor, em inglês, é: http://rogerebert.suntimes.com/

Níquel Náusea



Considero o Níquel Náusea, de Fernando Gonsales, um dos quadrinhos mais interessantes já feitos no Brasil. Na maioria das vezes, Gonsales utiliza animais como protagonistas de suas tirinhas.

As histórias têm um quê de fábula,somado a um humor surrealista que lembra um pouco a Monty Python, além de muita criatividade. Em tempos nos quais as tirinhas brasileiras muitas vezes apelam para um humor negro exagerado ou então só falam sobre problemas existenciais, é um respiro poder ver que o autor continua realizando um produto original e diferenciado.

Deixo aqui o endereço do site do Níquel Náusea para quem quiser ver:


www2.uol.com.br/niquel

sexta-feira, 20 de março de 2009

Os vários significados da fotografia



A fotografia, assim como todo tipo de mensagem, tem um sentido denotativo e outro conotativo. De acordo com o significado clássico destas palavras, denotativo é o aspecto mais ''objetivo'', ou ''direto'' da fotografia, enquanto que ''conotativo'' é o sentido menos aparente, dependente de uma interpretação mais aprofundada.

A maioria das pessoas tende a ver a fotografia sob seu aspecto denotativo. O que não é surpresa, pois a denotação é uma das características da fotografia por excelência. A ilusão da realidade é muito forte nesta forma de comunicação, uma vez que quando vemos a imagem capturada sentimo-nos quase como se estivéssemos olhando através de uma janela.

No entanto, a mensagem fotográfica é carregada de muitas influências externas. O ângulo escolhido pelo fotógrafo, o uso ou não do flash, a abertura do diafragma, o tempo de exposição do obturador, o uso de teleobjetivas, etc.

Aliás, segundo alguns teóricos da semiótica, não só nas intenções do fotógrafo repousa a parte conotativa da fotografia, mas também na cabeça dos cientistas que projetaram a câmera e a fizeram tirar as fotos da maneira pela qual o faz.

É interessante notar que para estes estudiosos, a fotografia em preto e branco é mais realista em sua representação de mundo do que a colorida. Isto ocorre porque a fotografia colorida exige mais processos químicos que se interpõem entre a imagem e o mundo real. Ou seja, existem mais filtros no caminho da representação.

Com tantos fatores envolvidos na produção do sentido em uma fotografia, é importante que as pessoas que tem consciência de todos estes processos construtivos tenham um olhar diferenciado ao olhar para esta forma de mensagem.

Não só por causa das fortes possibilidades de manipulação inerentes à imagem, mas também porque uma fotografia pode ser muito mas rica em sentidos do que aparenta inicialmente. Tanto por causa da intenção do fotógrafo quanto por fatores externos, inesperados.

Em certa aula de faculdade fizemos uma análise em grupo da fotografia que ilustra
este texto (de autoria de Evandro Teixeira). Foi uma grande sorte ter pego esta fotografia, uma vez que as outras opções eram uma fotografia já clichê do 11 de setembro (evento sobre o qual ainda somos bombardeados tanto na faculdade quanto pela mídia) e a famosa fotografia do beijo tirada por Cartier-Bresson, que também é vista em muitos lugares.

Com uma perspectiva ainda nova sobre a fotografia, foi possível encontrar muitos sentidos sobre ela. E a quantas conclusões interessantes nós chegamos. Coloco aqui algumas delas:

* A foto demonstra a banalização da violência. Apesar de inserido em um contexto brutal, o garoto parece não se importar com o ambiente ao seu redor.

* A banalização, a atitude descontraída dos outros personagens (sentados na calçada, ao redor do corpo) demonstra que aquele é um ambiente de conflito constante.

* A imagem demonstra uma certa falta de solidariedade e empatia. O corpo jaz solitário, descoberto, no chão de terra batida.

* O garoto encontra-se fascinado por ser o centro das atenções. A presença da mídia, no caso, a câmera fotográfica, tem um apelo quase mágico para ele.

* O cenário é de pobreza material. O cadáver, assim como o garoto, estão descamisados. A rua é de má qualidade. As pessoas vestem bermudas e chinelos de dedo.

* O grande truque desta foto é o deslocamento do personagem central. Enquanto todos parecem estar imersos naquele ambiente, o garoto olha para fora do cenário, como se ciente da presença do observador.

* O personagem central está posando para a foto. Fotografá-lo foi uma escolha do fotógrafo, o que ajudou na construção do sentido (conotação).

* O fotógrafo utilizou-se de recursos da câmera para fazer o garoto sobressair. Colocou-o em foco, enquanto o resto da cena está fora deste. Além disse, o garoto está em primeiro plano, enquanto os outros personagens aparecem ao fundo.

* O contraste cromático da fotografia, que é preto e branca, também ajuda na criação do deslocamento. O garoto é negro, o chão de terra batida é de cor clara, fazendo-o sobressair.

* Um dos temas centrais (senão o central) desta fotografia é a oposição semântica entre morte e vida.

Uma análise destas leva algum tempo de observação para ser feita, mas é muito gratificante poder ''saborear'' pacientemente uma boa fotografia ao invés de simplesmente ''devorá-la'' com os olhos. Descobrir os segredos e montar o quebra-cabeça por trás de uma imagem.

Para quem gosta de boas fotos, deixo aqui o link da galeria dos vencedores do World Press Photo em 2009. É um dos maiores prêmios do fotojornalismo. Ressalto aqui que apesar de algumas fotos serem de ordem mais conotativa, a maioria delas também são extremamente denotativas, transmitindo a maior quantidade de informação possível.

Boa leitura: http://www.worldpressphoto.org/

quarta-feira, 18 de março de 2009

Zappa e Kubrick, Kubrick e Zappa








Esses dias atrás, na aula de Estética, (sobre a qual eu faço meu terceiro post neste blog, mas que atualmente é a aula que considero mais interessante na UEL) o professor estava falando sobre os papéis da oralidade e da visualidade em nossa sociedade.


A abordagem feita pelo professor tinha como base um texto de Norval Baitello Júnior, cujo nome era ''A Cultura do Ouvir''. O texto de Baitello argumenta que atualmente, nas sociedades modernas, a visualidade é muito mais valorizada do que a oralidade. Para ser mais direto, que a imagem vale muito mais que o som.

Eu concordo absolutamente com este ponto de vista. Hoje em dia, os principais veículos midiáticos são a televisão e a internet, enquanto o rádio foi jogado a escanteio. A sociedade atual preza a imagem e, cada vez mais, a velocidade da imagem.

Segundo o professor, pesquisadores fizeram um estudo que concluiu que, comparando-se programas televisivos de 1988 e dos anos 2000, as tomadas dos programas mais antigos eram muito mais longas do que as dos atuais. Hoje em dia, os filmes, por exemplo, passam em ritmo e videoclipe, comparando-se com a lentidão das películas mais antigas.

Evidentemente que hoje em dia ainda se escuta muita música. Contudo, as pessoas tendem a escutar apenas o que gostam, uma vez que na maior parte do tempo estão ocupadas demais devorando imagens para prestar atenção no som.

Partindo desse pressuposto, o professor sugeriu que as pessoas experimentassem outros tipos de música, música que desafiasse suas percepções. Neste ponto, ele citou Frank Zappa. Achei muito interessante ele ter falado sobre o Zappa, e tive vários pensamentos naquele momento.

Um foi de que o Zappa é realmente inesperado mesmo. Algumas de suas músicas podem ser geniais, enquanto outras são terríveis (atire a primeira pedra quem nunca ouviu uma música ruim do cara), às vezes até desagradáveis ao ouvido propositalmente. Mas ele era um artista totalmente sui generis. Misturava dezenas de estilos, utilizava montes de instrumentos, cada música é uma surpresa. Mesmo dentro de uma única canção de Zappa, você pode ter vários estilos diferentes sendo tocados.

Certa vez, Frank Zappa disse: ''Minha música é cinema para os ouvidos'', o que define muito bem o seu trabalho.

O assunto da aula mudou para cinema, e o professor sugeriu que se as pessoas quisessem assistir filmes que instigassem a sua percepção, deveriam assistir obras de Stanley Kubrick.

Nem bem o professor disse isto, eu não pude me conter e exclamei: ''O Kubrick é o Zappa do cinema''.

O professor concordou, e disse mais acertadamente: ''O Kubrick é o Zappa do cinema, ou o Zappa é o Kubrick da música''.

De qualquer forma, eu conheço vários trabalhos dos dois artistas há anos, e já tinha esta visão de equivalência havia muito tempo. Ambos trabalham com uma míriade de temas, ambos tinham um humor sarcástico, ambos podiam ser tão clássicos quanto ultra-modernos. E, o mais importante, ambos eram muito loucos e criativos, e você não sabe o que esperar deles quando está ouvindo ou vendo seus trabalhos.

O professor provavelmente já tinha feito esta comparação de forma inconsciente, por isto que citou o Kubrick logo em seguida ao Zappa.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A riqueza de Henfil


Mal comecei o ano letivo, já tratei de correr atrás de material sobre Henfil, o famoso cartunista mineiro. Por que? Porque estou fazendo o meu TCC sobre a obra do cara.Fazendo é modo de dizer, ainda nem comecei a escrever o projeto, mas de qualquer forma já li três coletâneas de obras dele, já conversei com um professor, já delimitei o tema e estou indo em frente.

Quando resolvi fazer o TCC sobre o Henfil, não conhecia quase nada sobre o trabalho dele. Apenas uma ou outra tirinha que apareceu em livros de português, vestibular ou coisas assim. Portanto, peguei o tema mais por instinto. Escolhi o trabalho do Henfil por achar que se o cara era tão famoso, suas obras deveriam ser fonte para muitas análises.

Eu também sabia de sua importância política. Sua importância como cartunista de resistência à ditadura e às injustiças do Brasil em geral. Para falar a verdade, eu pensava em Henfil apenas como um cartunista político. Não achava que seus quadrinhos tivessem muita graça, mas respeitava sua importância como material de protesto.

Qual não foi minha surpresa quando li suas coletâneas, e vi que seu trabalho era muito diferente, muito mais rico do que eu pensava.

Henfil não falava apenas de questões políticas. Falava sobre sexo, preconceito, comportamento e, em muitas ocasiões,apresentava um humor puramente nonsense. Tudo isso com uma criatividade e uma energia sem iguais.

Eu estou utilizando sua obra para estudar, mas ao mesmo tempo me divirto horrores quando leio suas tirinhas. Às vezes, até gargalho sozinho.

Aliás, mesmo quando Henfil aborda a política, consegue fazê-lo de uma maneira extremamente sutil e humorística. Na maioria das vezes, até o nonsense aparece nessas tirinhas mais políticas. O que não deveria ser surpresa, porque a política é nonsense neste país.

Com um material tão rico, é de se espantar que Henfil não seja mais falado nas escolas, nas universidades. Aliás, não é de se espantar tanto não, dados os problemas da nossa educação.

Mas é ridículo, por exemplo, que não haja nenhum livro do cartunista na Biblioteca da Cidade, 1 livro de quadrinhos apenas na UEL, e que na cidade inteira só as Livrarias Porto vendam algumas de suas obras.

A obra de Henfil é um patrimônio do Brasil. Tanto mais que permanece atual. Seu humor ácido é muito pertinente aos dias de hoje, e seu conteúdo inteligente e desbocado bate muitos dos quadrinistas de hoje em dia.

Espero que um dia este país reconheça verdadeiramente o trabalho deste artista que tanto lutou por ele com as mais sutis das armas: a caneta e o papel.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Semiótica dos Anjos - Parte 2



Pois é, na aula de hoje de Estética (sim, estamos tendo aulas dessa matéria a rodo!) assistimos a algumas cenas do filme Cidade dos Anjos e discutimos o texto de Malena Contrera.

Devo dizer que minhas expectativas foram correspondidas. O filme de Hollywood não era ruim, mas era uma obra predominantemente comercial, e perdeu muito da expressividade e originalidade da película de Wim Wenders.

Podemos fazer várias comparações que atestam isto.

O filme de Wenders é muito mais sutil que a versão americana. Uma das primeiras cenas do filme mostra o anjo representado por Bruno Ganz pulando de uma grande estátua e caindo. E por que ele está fazendo isto? Ora bolas, porque ele é um anjo, ele pode. A queda é apenas um mero detalhe, não tem uma significação maior na história, mas é uma cena bonita.

Porém, em Cidade dos Anjos o personagem de Nicolas Cage precisa saltar para se tornar humano (quanta dramaticidade!), e a cena em que faz isto é recheada de imagens emocionais de partos e médicos, lembrando alguma propaganda de plano de saúde.

Outro personagem muito distorcido foi aquele coadjuvante chamado Columbo. No filme original, ele era um ex-anjo, agora ator de filmes B, gravando um filme em Berlim Ocidental, enquanto a narrativa seguia seus pensamentos.

No filme estrelado por Nicolas Cage, aparecia um indivíduo chamado Nathan Messenger que era um ex-anjo trapalhão, cuja única função era ligar o anjo Seth à doutora Maggie.

Cidade dos Anjos foca-se apenas no amor ''impossível'' entre o anjo e a mulher, enquanto Asas do Desejo é muito mais rico. O anjo de Asas do Desejo é apenas um personagem entre vários.

O filme alemão mostra também as elocubrações de Columbo, as jornadas mentais e físicas de um velho escritor no fim de sua vida,as alegrias e tristezas de pessoas que trabalham em um circo e os pensamentos e sentimentos de várias pessoas comuns que aparecem durante o filme.

Enquanto Asas do Desejo é rico em detalhes, Cidade dos Anjos apenas pegou um fio da meada da história e o estirou até que quase arrebentasse.

Quanto aos diálogos e pensamentos dos personagens, não há nem como comparar. Sem dúvida, Asas do Desejo poderia ter rendido uma análise muito mais interessante a Malena Contrera.

terça-feira, 10 de março de 2009

A Semiótica dos Anjos - Parte 1

Na última aula de Estética e Comunicação, realizada hoje, estudamos um texto da Malena Contrera chamado ''O gosto da pêra: Sobre anjos caídos''. O texto consiste em uma análise interpretativa do filme ''Cidade dos Anjos'', estrelado por Nicolas Cage e Meg Ryan.

Achei um pouco engraçado Malena ter escolhido este filme como tema. Engraçado porque ''Cidade dos Anjos'' é uma versão hollywoodiana e pasteurizada de um filme alemão chamado ''Asas do Desejo'', dirigido pelo Wim Wenders.

Enquanto ''Asas do Desejo'' é um filme riquíssimo em significado, parece-me que ''Cidade dos Anjos'' é um filme mais focado no romance entre o anjo e a mulher. O problema aí não seria o enfoque, mas sim a maneira ''água com açúcar'' pela qual o filme foi conduzido.

Posso até queimar a língua falando estas coisas, porque ainda não vi ''Cidade dos Anjos'', mas tendo um conhecimento além do razoável de filmes de Hollywood e de atores como Nicolas Cage e Meg Ryan, já sei o que esperar de um filme assim. Ademais, várias pessoas disseram que o filme é meloso.

Bem, de qualquer forma eu terei que ver a película em breve para a aula de Estética, e então poderei dar uma opinião com mais propriedade.

Veremos se minha opinião se mantém...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Mascotes



Nas últimas semanas, li duas notícias sobre chimpanzés. As duas tinham em comum o fato de que os macacos haviam cometido atos de violência contra seres humanos.

O primeiro ocorrido aconteceu nos Estados Unidos, em 16 de fevereiro. Uma dona de casa de Connecticut, Sandra Herold, 70 anos, possuía um chimpanzé de catorze anos chamado Travis. Travis comia à mesa, tomava vinho, andava de carro, e até dormia na cama da dona.

Certo dia, o macaco rebelou-se, saiu de casa segurando as chaves do carro e pelo jeito não queria mais voltar. Poderia ser apenas uma crise de adolescência símia, ou incompatibilidade de gênios, mas Travis não estava a fim de conversa.

Sandra chamou sua amiga Charla Nash para ajudá-la a recolocar o chimpanzé dentro da casa. Ao ver Nash, Travis a atacou brutalmente, mordendo e dilacerando seu rosto, enquanto sua dona tentava pará-lo inutilmente.

Desesperada, Sandra ligou para a polícia, que chegou e matou o macaco a tiros. Quanto a Charla, sobreviveu, mas perdeu as mãos e o rosto.

A outra notícia, felizmente de teor mais leve, aconteceu em um zoólogico sueco. Um chimpanzé coletou pacientemente centenas de pedregulhos, sem que os tratadores percebessem.

Quando sentia-se irritado com a presença dos seres humanos, o chimpanzé atirava as pedras em direção a eles. Felizmente, tem a pontaria ruim e não machucou ninguém.

O que é impressionante neste caso, segundo os cientistas, é a habilidade do macaco em planejar suas reações. Quando coletava as pedras estava calmo, mas sabia que as usaria posteriormente quando se sentisse irritado.

Tendo lido sobre ambos os casos, inicialmente senti-me revoltado com os dois animais. Depois, porém, ponderei e percebi que muitas vezes o homem, por tentar tratar os macacos como semelhantes, acaba esquecendo que são animais selvagens e perigosos.

A natureza do animal é diferente, ele não está preparado para este tipo de interação a que é submetido. Sendo assim, reações imprevisíveis podem ocorrer.

Bom, já que estamos falando nisso, acabei de ver um videozinho que ilustra bem a situação:

sábado, 7 de março de 2009

8 de março, sobre o que falar?



Pois é, hoje é mais um Dia Internacional da Mulher. Aliás, é interessante lembrar que o primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado há quase exatamente 100 anos, em 28 de fevereiro de 1909, nos Estados Unidos.

De lá para cá, muita coisa mudou na vida das mulheres. Da cozinha e do tanque elas saíram para o mundo.

Na boa e Nova Zelândia, em 1893, as mulheres ganharam o direito de votar pela primeira vez, graças a várias militantes, em especial a famosa Kate Sheppard. Kate é reconhecida no país em estátuas e também na nota de dez dólares neozelandeses.

Outras conquistas importantes foram o direito a um salário equivalente ao dos homens, igualdade de tratamento perante a lei e a liberdade de planejamento familiar. Inclusive, hoje em dia as mulheres podem até ser mães solteiras. Não é fenomenal?

Várias dessas mudanças foram obtidas nos anos 60, com os movimentos norte-americanos pelos direitos civis, mas também graças a mobilizações ocorridas em outros países.

Hoje temos mulheres presidentes, como Michelle Bachelet no Chile e Cristina Kirchner na Argentina; Mulheres que comandam naves espaciais, como a americana Eileen Collins em 1999; Mulheres que jogam futebol e participam de Copas do Mundo,ocorrendo desde 1991, e até mulheres generais de quatro estrelas do Exército americano como Ann E.Dunwoody.

Pouco a pouco, as mulheres tornaram-se maioria nas universidades do Brasil. Em cursos como Pedagogia, Enfermagem, Psicologia, Letras e Biologia, elas já constituem de 74% a 95% dos alunos.

Com uma evolução tão impressionante, é de se pensar que dentro de algumas décadas será preciso um ''Dia Internacional do Homem'' para reparar o atraso em que os marmanjões estão se colocando.

As duras propagandas da Nova Zelândia

Cheguei ao Brasil há nove dias, após ter passado um ano na Nova Zelândia. Uma das coisas interessantes que notei na televisão neozelandesa foi que as propagandas de conscientização em relação ao uso do álcool (que é um problema no país)e de responsabilidade no trânsito são muito bem produzidas.


Porém, mais do que isto, as propagandas são extremamente diretas e, por que não dizer, até de certa forma violentas. Os anúncios educam pela catarse,e dá até um pouco de depressão ver as propagandas neozelandesas.

Aqui temos alguns exemplos:



Esta propaganda faz parte de uma série cujo slogan é ''It´s not the drinking, it's how we're drinking'' (''Não é a bebida, é a maneira como estamos bebendo''), e impressiona pela brutalidade. No caso, o marmanjão batendo a cabeça do molequinho na estante.

Desta mesma série, temos outro anúncio que também choca pela violência envolvida. A do homem que vai ao bar e começa uma briga.



Mas a minha propaganda preferida dessas de conscientização é a do sujeito da roleta. Uma espécie de personificação da morte, ele joga com a vida das pessoas que se arriscam nos cruzamentos perigosos. Este anúncio era realmente bem-feito, pois ouvi vários de meus conhecidos falando sobre ele.



A franqueza destas propagandas impressiona, e faz refletir até as pessoas mais toscas que são comandadas por seus instintos mais básicos.