terça-feira, 7 de abril de 2009

Benefício para quem?


Na última quarta-feira, sugestivamente dia primeiro de abril, o Supremo Tribunal Federal adiou o julgamento de um recurso polêmico. Se aprovado, tal recurso extinguirá a obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão de jornalista.

Aparentemente, o adiamento desta decisão foi causado pelos protestos realizados por jornalistas, estudantes da área, professores e membros da sociedade civil.

Não é a primeira vez que a questão da exigência do diploma de jornalismo entra em pauta no Brasil. A questão é complexa, e divide opiniões dentro da sociedade.

Há aqueles que afirmam que esta graduação não é necessária, uma vez que os jornais poderiam contratar funcionários menos qualificados e simplesmente treiná-los para a profissão.

Todavia, pode-se derrubar este argumento simplesmente com a constatação óbvia de que um funcionário sem o diploma pode até obter conhecimento da práxis jornalística, mas dificilmente terá acesso a um estudo de qualidade de matérias como Semiótica, Teoria da Comunicação, Ética, Filosofia e inúmeras outras disciplinas importantes no campo da Comunicação.

No entanto, esta abordagem do problema não deve ser o ponto central da discussão. A questão vai mais além, quando devemos nos perguntar: Que benefício esta medida trará para a sociedade brasileira?

O Recurso Extraordinário RE 511961 foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal por um grupo de influentes empresários da comunicação.

Se houvesse um grande déficit de jornalistas no Brasil, o que não ocorre, pois o mercado atualmente encontra-se saturado, seria justificável que se discutisse a necessidade da extinção da obrigatoriedade do diploma com o intuito de se formar mais profissionais.

No entanto, uma vez que há jornalistas sobrando no mercado, e que já existe um processo de ''seleção natural'' na atividade jornalística, onde está o benefício da extinção desta obrigatoriedade?

O benefício, se tal recurso for aprovado, será inteiramente deste grupo de empresários donos de meios de comunicação.

Além de poder diminuir drasticamente o salário dos futuros ''jornalistas'', tais empresários também terão maior liberdade para manipular estes profissionais, que na maioria dos casos não possuirão um entendimento profundo das questões jornalísticas.

Resta esperar que a sociedade brasileira, que lutou durante 20 anos de ditadura para receber informação de qualidade, reflita e opine sobre esta questão.

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