terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu ainda acredito em Scorsese


Martin Scorsese foi um dos diretores que participaram da revolução que houve em Hollywood nos anos 70. Junto com Francis Ford Coppola, Roman Polanski, Milos Forman, Stanley Kubrick, Woody Allen, Ridley Scott e outros diretores, Scorsese deu um bico na mediocridade que imperava no cinema americano de sua fundação até os anos 60, e que infelizmente retornaria no início dos anos 80.

Durante aqueles breves anos, Hollywood deixaria de lado a torrente de musicais alienados dos anos 50, os novelões estilo ''...E o Vento Levou'' e as comédias dos Três Patetas para investir em filmes viscerais, muitas vezes críticos ácidos do american way of life. Scorsese contribuiu principalmente com suas duas obras-primas ''Taxi Driver'' (1976) e ''Touro Indomável'' (1980).

Nos dois filmes, Robert de Niro fez atuações magníficas, representando personagens decadentes e desajustados. Obviamente, nenhum dos filmes foi reconhecido pelo Oscar, por conter grande quantidade de linguajar considerado ''inapropriado'' e retratar lados também não muito belos da sociedade norte-americana.

Nos anos seguintes, Scorsese faria um filme interessante (''A Última Tentação de Cristo'', em 1986) e voltaria a brilhar com ''Os Bons Companheiros'' (1990), um dos mais importantes filmes de máfia, que retratou os gângsteres italianos sob um ponto de vista muito menos glamouroso do que ''O Poderoso Chefão''.

Depois de ''Os Bons Companheiros'', Scorsese fez uma série de filmes inexpressivos como o fraco ''Cabo do Medo'' (1991), filme banal de psicopata-americano-que-persegue-família e ''Vivendo no Limite'' (1999), película em que Nicolas Cage trabalha como motorista noturno de ambulância, em uma tentativa falha de repetir o êxito de ''Taxi Driver''.

Em 2002, o diretor realizou ''Gangues de Nova York''. Filme despretensioso, esta obra é mais um exercício estético de cinema do que uma tentativa de se realizar algo catártico. E funciona. A ''arte pela arte'' de Scorsese rende momentos interessantes, como as cenas em que as gangues do século XIX lutam em meio aos pátios nevados de Nova York, e a hostilidade aberta aos imigrantes irlandeses.

''Gangues de Nova York'' é um filme que deve ser visto como um teatro visual. Mesmo assim, para quem esperava um dos velhos e bons acertos do diretor, ainda faltou um pouquinho.

Scorsese atacaria de novo com ''O Aviador'' (2004), um filme água-com-açúcar sobre a vida do milionário Howard Hughes, e ''Os Infiltrados'' (2006), refilmagem de um filme policial de Hong Kong.

Este último foi muito incensado pelo público e pela crítica, mas não tem nada de verdadeiramente especial. O roteiro é simples, a trilha sonora é rock banal, as cenas de ação são explosivas e vazias. Scorsese fez um filme pasteurizado para as massas de hoje em dia. E funcionou.

Depois de tanto tempo sem realizar um filme marcante (o último foi ''Os Bons Companheiros'', há quase 20 anos) há aqueles que digam que o diretor perdeu a mão definitivamente.

Porém, estou com uma sensação positiva muito forte sobre um filme que será dirigido por Scorsese e que sairá nos cinemas em 2010. O título em inglês é ''Silence''. A obra é baseada no livro homônimo do consagrado escritor japonês Shusaku Endo.

O livro de Endo se passa no Japão feudal, em meados do século XVII, e conta a história de dois missionários portugueses que viajam ao país para investigar massacres de cristãos nipônicos e também localizar seu desaparecido mentor.

A trama por si só, com sua oposição entre Oriente e Ocidente, em um momento histórico obscuro, é interessantíssima. Outros pontos que podem contar a favor de Scorsese são o seu background italiano-católico, que já lhe ajudou a caprichar em ''A Última Tentação de Cristo''; o fortíssimo elenco escalado: Benício Del Toro, Daniel Day-Lewis e Gael Garcia Bernal representarão os missionários lusitanos, dando-nos um merecido descanso de Leonardo di Caprio, e também a violência da trama, elemento do qual Scorsese gosta e sabe trabalhar bem.

Veremos o que acontece. Mas estou esperançoso e aguardo ansioso por esta obra.

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