quarta-feira, 18 de março de 2009

Zappa e Kubrick, Kubrick e Zappa








Esses dias atrás, na aula de Estética, (sobre a qual eu faço meu terceiro post neste blog, mas que atualmente é a aula que considero mais interessante na UEL) o professor estava falando sobre os papéis da oralidade e da visualidade em nossa sociedade.


A abordagem feita pelo professor tinha como base um texto de Norval Baitello Júnior, cujo nome era ''A Cultura do Ouvir''. O texto de Baitello argumenta que atualmente, nas sociedades modernas, a visualidade é muito mais valorizada do que a oralidade. Para ser mais direto, que a imagem vale muito mais que o som.

Eu concordo absolutamente com este ponto de vista. Hoje em dia, os principais veículos midiáticos são a televisão e a internet, enquanto o rádio foi jogado a escanteio. A sociedade atual preza a imagem e, cada vez mais, a velocidade da imagem.

Segundo o professor, pesquisadores fizeram um estudo que concluiu que, comparando-se programas televisivos de 1988 e dos anos 2000, as tomadas dos programas mais antigos eram muito mais longas do que as dos atuais. Hoje em dia, os filmes, por exemplo, passam em ritmo e videoclipe, comparando-se com a lentidão das películas mais antigas.

Evidentemente que hoje em dia ainda se escuta muita música. Contudo, as pessoas tendem a escutar apenas o que gostam, uma vez que na maior parte do tempo estão ocupadas demais devorando imagens para prestar atenção no som.

Partindo desse pressuposto, o professor sugeriu que as pessoas experimentassem outros tipos de música, música que desafiasse suas percepções. Neste ponto, ele citou Frank Zappa. Achei muito interessante ele ter falado sobre o Zappa, e tive vários pensamentos naquele momento.

Um foi de que o Zappa é realmente inesperado mesmo. Algumas de suas músicas podem ser geniais, enquanto outras são terríveis (atire a primeira pedra quem nunca ouviu uma música ruim do cara), às vezes até desagradáveis ao ouvido propositalmente. Mas ele era um artista totalmente sui generis. Misturava dezenas de estilos, utilizava montes de instrumentos, cada música é uma surpresa. Mesmo dentro de uma única canção de Zappa, você pode ter vários estilos diferentes sendo tocados.

Certa vez, Frank Zappa disse: ''Minha música é cinema para os ouvidos'', o que define muito bem o seu trabalho.

O assunto da aula mudou para cinema, e o professor sugeriu que se as pessoas quisessem assistir filmes que instigassem a sua percepção, deveriam assistir obras de Stanley Kubrick.

Nem bem o professor disse isto, eu não pude me conter e exclamei: ''O Kubrick é o Zappa do cinema''.

O professor concordou, e disse mais acertadamente: ''O Kubrick é o Zappa do cinema, ou o Zappa é o Kubrick da música''.

De qualquer forma, eu conheço vários trabalhos dos dois artistas há anos, e já tinha esta visão de equivalência havia muito tempo. Ambos trabalham com uma míriade de temas, ambos tinham um humor sarcástico, ambos podiam ser tão clássicos quanto ultra-modernos. E, o mais importante, ambos eram muito loucos e criativos, e você não sabe o que esperar deles quando está ouvindo ou vendo seus trabalhos.

O professor provavelmente já tinha feito esta comparação de forma inconsciente, por isto que citou o Kubrick logo em seguida ao Zappa.

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